sábado, 23 de janeiro de 2010

Acordar, viver


Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.


Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?


Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?


Ninguém responde, a vida é pétrea.


Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

  1. Perfeito, Drummond é inconfundível...
    Concordo com ele a vida é realmente muito dura...
    Cheia de "POR QUE"... Mas é essa cuiriosidade que nos
    mantém vivos...
    A duvida se o amanhã realmente vira...

    Muito Lindo, amei

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  2. Muito mais lindo que isso é a sua sensibilidade para a percepção da arte, que bom que gostou! Em breve postarei outros, que ainda são desconhecidos; Volte sempre, Rafaela...

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